Casas Bahia (BHIA3): 5 pontos para entender como a recuperação extrajudicial afeta o investidor – Mercado – Estadão E-Investidor – As principais notícias do mercado financeiro – E-Investidor
O Grupo Casas Bahia (BHIA3) entrou com um pedido de recuperação extrajudicial para renegociar uma dívida de R$ 4,1 bilhões com seus principais credores, conforme um documento enviado ao mercado na noite de domingo (28).
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O acordo preserva R$ 4,3 bilhões no caixa da companhia até 2027, sendo R$ 1,5 bilhão apenas neste ano – antes, a empresa teria que desembolsar R$ 4,8 bilhões no mesmo período. Agora, o grupo terá de arcar, no mesmo prazo, com apenas R$ 500 milhões. Na prática, o acordo reduziu o custo do financiamento e estendeu o prazo para pagamento. Mas qual é a avaliação dos analistas e como isso impacta o investidor?
Entenda como o pedido de recuperação extrajudicial deve afetar o investidor em cinco pontos:
A recuperação extrajudicial consiste numa negociação entre a empresa devedora e seus credores para renegociar uma dívida, sem necessidade de intervenção da Justiça. O grupo renegocia o valor de R$ 4,1 bilhões e foi previamente acordado com Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), seus principais credores que possuem 54,5% dos débitos.
A crise da Casas Bahia era visível desde agosto do ano passado, quando suas ações caíram cerca de 60%. O fracassado follow on (nova emissão de ações), em que a empresa conseguiu apenas R$ 623 milhões dos R$ 1,1 bilhão esperados, foi a pá de cal. Além disso, foram fechadas 55 lojas e os estoques foram reduzidos em R$ 1,2 bilhão em relação ao quarto trimestre de 2022.
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Em entrevista ao Estadão, Michael Klen afirmou que a crise está relacionada à tentativa de crescimento da empresa durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo o maior acionista da Via (VIIA3) e primogênito da família fundadora, o investimento massivo em comércio eletrônico foi prejudicado pela chegada de competidores como Amazon (AMZO34), Shein e Shopee.
A entrada com o pedido é vista como positiva pelo mercado de forma unânime. Em relatório enviado nesta segunda-feira (29), a Ágora Investimentos e o Bradesco BBI afirmam que a notícia é muito positiva e proporciona alívio para o mercado. “A empresa acabará por melhorar seu fluxo de caixa em R$ 4,3 bilhões nos próximos 4 anos, o que significa cerca de 8 vezes o valor de mercado atual de R$ 517 milhões”, comentam os especialistas Flávia Meirelles e Pedro Pinto.
O alívio de fluxo de caixa de R$ 1,5 bilhão para 2024, por exemplo, é superior ao Ebitda ajustado dos últimos 12 meses (R$ 1,2 bilhão), segundo a analista. Espera-se que que a empresa terá um foco maior na execução do plano de transformação sem preocupações de curto prazo com resgates significativos de caixa.
Dessa maneira, as corretoras mantém as suas recomendações para o papel como “neutra”. “No final das contas, esta medida traz uma importante margem de manobra para os fluxos de caixa de curto e médio prazo da Casas Bahia e, até certo ponto, diminui os riscos de preocupações com liquidez”, afirma o relatório.
Durante o ano de 2024, os investidores que apostaram nas ações do Grupo Casas Bahia enfrentam perdas significativas, uma vez que os valores das ações despencaram 52,2%. No fechamento da última sexta-feira (26), os papéis da empresa sofreram outro declínio, recuando 1,45% e encerrando o dia valendo R$ 5,44.
No entanto, os especialistas se dividem em relação aos impactos para o investidor. Para o analista CNPI da Suno Research, José Daronco, os acionistas não devem ser afetados. “Os efeitos da recuperação extrajudicial são muito mais limitados do que uma recuperação judicial. Além disso, dado que já há acordo com os dois principais credores, eventuais riscos da não aprovação estão mitigados”, afirma.
Já para os demais analistas consultados pelo E-Investidor, apesar de ser um passo positivo para o grupo, há um impacto significativo que pode alterar muito os rumos das ações da empresa: o risco enorme de diluição dos acionistas.
Segundo o chefe de análise da Eleven Financial, Carlos Daltozo, isso pode ocorrer por conta da possibilidade das dívidas serem convertidas em ações. “Há um prazo determinado, entre 18 e 36 meses após a conclusão da operação, e com um desconto em torno de 20% frente ao preço de tela dos 90 dias anteriores à conversão”, diz.
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Para o chefe de análise de ações da Órama Investimentos, Phil Soares, o acionista vai perder bastante do potencial de alta. “Mesmo que ocorra uma alta muito expressiva que traga o valor da Casa Bahia de volta para o patamar do início do ano passado, ainda haverá uma diluição muito expressiva, da ordem de 40% a 50%”, pontua.
De acordo com o analista da VG Research, Lucas Lima, um dos principais fatores é que existe a possibilidade dos credores optarem pela conversão da dívida em equity (patrimônio líquido de uma companhia ou uma participação societária nela). “Além disso, a divulgação de notícias na mídia pode “assustar” um pouco os consumidores da Casas Bahia, impactando na demanda pelos produtos”, sinaliza.
Sobre a questão de equity, o especialista em finanças pessoais e sócio-diretor da Méthode Consultoria, Adriano Gomes, é categórico ao afirmar que cedo ou tarde, esse é o destino de toda dívida. “Investidores devem entender e aprender que não bastam os KPI tradicionais para avaliar o desempenho de uma ação, e sim uma análise criteriosa da política de estrutura de capitais”, assegura.
Para José Daronco da Suno Research, a recomendação é que os investidores busquem ativos perenes e tomem cuidado em tomar grandes exposições em empresas em reestruturação. Ele afirma que muitos ativos lucrativos e com teses mais simples estão sendo negociados a preços muito baixos na bolsa, atualmente.
De acordo com o advogado e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), Luis Zainaghi, o cenário atual deve ser de cautela. Os investidores devem ficar atentos, pois isso pode influenciar o valor das ações e a credibilidade da empresa no mercado. A recuperação extrajudicial pode amenizar o impacto, mas ainda há incertezas sobre o futuro financeiro da companhia.
Já Adriano Gomes, da Méthode Consultoria, afirma que os métodos tradicionais de avaliação de investimentos não devem ser abandonados, e sim complementados. “Seguir os mesmos indicadores e acreditar que irão refletir numa boa escolha presente e rentabilidade futura é bastante frágil, sobretudo para empresas estressadas”, diz.
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Segundo o especialista, devem ter credibilidade as empresas que possuem uma preocupação maior com medidas necessárias para a durabilidade da companhia do que as que executam apenas processos emergenciais de curtíssimo prazo. Ou seja, merecem a atenção do investidor as empresas preocupadas com o desempenho no longo prazo.
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